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segunda-feira, 23 de março de 2015

A têndencia Oversized e sua desconstrução do corpo humano




Através de uma análise antropológica acerca da vestimenta, consegue-se enxergar as diferentes maneiras que o corpo humano foi moldado por esses objetos , mesmo antes da existência do sistema da Moda. De molduras básicas constituídas no período paleolítico  às complexas e conceituais da contemporaneidade, a trajetória dessas representações evidenciam o lado ignorado do cenário fashion: sua importância no âmbito da sociologia.

Se tal estudo for feito, iremos perceber que ao longo dos séculos houveram varias revoltas e revoluções no mundo da moda, onde em cada uma delas, influenciadas por valores de determinados séculos presentes no mundo ocidental, o resultado sempre foi um novo padrão estético. Entretanto, as atuais relações humanas, com seus incompreendíveis  objetivos, tem provocado uma reflexão sobre novas formas de se criar roupas e de experiencia-las. Através, por exemplo, da tendência Oversize; que propõem  uma desconstrução anatômica. 

Usar uma camiseta GG, quando  na verdade seu tamanho é P,  nunca esteve tão em alta entre os jovens urbanos.  As calças largas que marcam apenas a cintura também são endeusadas entre grupos que habitam a cidade. Mas nenhuma peça supera as de sobreposições. Parkas, cardigãs, sweaters e jaquetas apresentam-se como as mais fiéis representações da tendência, pois através delas é possível criar combinações capazes que remodelar por completo o corpo do individuo. Sua musculatura cai  no abstracionismo, onde a subjetividade da as cartas. Com isso, surge em nós observadores, perguntas e expressões referentes àquela corpo que foi reconfigurado: "ele é gordo ou magro? porque com essa roupa não da pra ter certeza" ou "nossa, você ficou mais alta com essa calça" e até mesmo "você é homem ou mulher?"; pergunta que mostra claramente a visão binaria ainda presente na indumentaria, que acarreta em diversos tipos de agressões quando o individuo possui uma expressão de gênero diferente daquela que lhe foi designada. 

Deve-se também discutir sobre a etapa em que o corpo é reconstituído; do processo em si, e não apenas do resultado final (o look). Perguntando-se o que leva um sujeito iniciar um movimento de ressignificação a respeito daquilo que lhe foi imposto por um saber médico ocidental ou por determinada religião, por exemplo. Ou até mesmo no que não leva outro sujeito a iniciar o mesmo processo. 

No fim, é preciso entender que esses desdobramentos ocorrem a todo momento e de formas diversas. A medida em que eu desconstruo, eu construo.  . Aquele que camufla o corpo que é estigmatizado pelo grupo a qual pertence, de certa maneira está ressignificando estruturas, mas de uma forma bastante problemática; reforçando seu lugar em um enquadramento, privando-se de mostrar-se por completo. Por fim, compreende-se que o corpo não diz apenas sobre uma anatomia, mas também sobre múltiplos comportamentos culturais. E a roupa assume justamente a responsabilidade de evidenciar ou esconder novas formas de vivenciar um corpo humano. 

É justo citar que o movimento oversized foi influenciado por outros de décadas passadas. O Hip Hop e o Grunge dos anos 80 já apresentavam a ideia de vestir peças maiores que seu corpo. O movimento hippie da década de 60 declarou para a sociedade norte americana a necessidade de cultivar a liberdade sexual e física, pensamento que refletiu na identidade visual dos adeptos à essas filosofias (como pode ser visto nesta foto), e contribuiu que as novas gerações tivessem um pensamento mais critico em relação aos padrões de belezas e comportamentos impostos por um sistema  racista e patriarcalista . É nesse momento que o street style toma mais força, sendo ele o responsável por fazer tais questionamentos na moda hegemônica .
  
Atualmente, podemos nos classificar como a ponta de um iceberg sendo os movimentos de contracultura ocorridos ao longo da história o restante dessa estrutura. Entretanto, mesmo carregando conosco influências de ações passadas, é preciso evidenciar nossas particularidades. Damos continuidade a causas sócias "antigas", mas também lutamos por novas mudanças, as quais podem até ser classificadas como ramificações ou desdobramentos daquilo que já vem sendo discutido  por gerações passadas. E tal dialética pode ser claramente vista na moda, quando ocorre uma alteração na paleta de cores ou na textura, mas se preserva a modelagem de uma peça que foi usada por sua avó quando nova. Ou quando é proposto uma recriação de um modelo ultrapassado de sapato, adicionando novos recortes e detalhes,  para que este volte a ser popular. 

Em tempos onde os questionamentos nunca estiveram tão fortes e explícitos, a Oversized caracteriza-se como uma dessas indagações. Então, se conceitos e valores estão naturalmente modificando-se, nada mais comum do que questões sobre o "estar humano" serem atingidas por esse movimento. Tal tendência, como diversas outras, é uma das formas que achamos para fazer a mesma pergunta: até onde somos o que somos? 






4 comentários:

  1. Adorei Gabssss, já até aderi a moda! <3

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  2. Adorei essa crítica ao consume de fast fashion sem nem pensar em que se está usando. Eu particularmente sempre adorei peças oversized, mas porque não gosto e tenho vergonha de marcar meu corpo. Sua reflexão foi muito válida, adorei. Um beijo

    Eu.Nomadiando

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    Respostas
    1. Fico feliz por você ter gostado e não tenha achado o texto chato hahahaha
      As peças oversized estão tornando-se as minhas prediletas, adorava elas antes mesmo de saber que elas possuíam um nome. Gosto delas pelo mesmo motivo: não marcam o corpo.
      Obrigado <333

      bjsss

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